viernes, 24 de mayo de 2013

A testemunha

A ordem só pode ser restaurada depois do caos. Quando cheguei àquela cidade, que sinto como minha, a polícia tentava instaurar a ordem entre o caos causado pelos manifestantes. Quanto a mim, seguia serena no autocarro, a tempestade já tinha passado, e ali estava eu, devidamente ordenada com esta coisa de existir. Lembro-me que até o céu parecia mais azul, e respirar parecia-se efectivamente com respirar, já não sufocava, era mais fácil. Estava tudo no seu devido lugar, a acontecer como tem de acontecer.
Ia testemunhando a desordem, num fora de mim que raramente me permito, lembro-me de pensar que mais cedo ou mais tarde as pessoas lá de fora iriam encontrar o ponto onde se estabeleceu a ruptura, iriam repará-lo, e a harmonia seria reposta, mas já nada seria como era antes, nunca é. A harmonia é sempre diferente, e a maioria das vezes breve. Exige uma manutenção cuidada, que resulta da soma de experiências e das ferramentas que fomos encontrando. Nada voltaria a ser como era. E tudo estava a acontecer como devia acontecer. A crença é incauta.

Eu ordenada nas coisas de dentro, eu testemunha das coisas de fora. Meditativa e relaxada, entreguei-me à previdência. Aceitar que há um destino foi coisa que me levou tempo, mantenho-me no entanto uma acérrima defensora de que a escolha da reacção ao imprevisto é sempre nossa. Devo dizer que Cronos foi implacável com aquela harmonia que era minha. Brevidade necessária? E tudo continuava a acontecer como tinha de acontecer. No dia seguinte pude escolher a cor do céu. A harmonia tinha sido alterada. A cidade amanheceu ordenada, testemunha do caos que me provocara. 


Diana V.

viernes, 15 de marzo de 2013

¿Qué hora es?



¿Qué hora es?

Caminé hasta  la iglesia y regresé sin Dios, el divino desencuentra siempre a quien camina sin tener donde llegar. ¿He llegado tarde? ¿He llegado temprano? Miro mi muñeca sin marcas y sin respuestas y me pregunto: - ¿Cuánto tiempo he estado aquí? La vida se mueve circular y yo con ella, rápida, alrededor de algo que empieza y termina en el mismo lugar. ¿Qué hora es?
Las agujas contrarrestan la agitación de los días, me quedo esperando tranquila todo lo que ha de venir, el reloj se detuvo en la puerta de otra vida. No hay más tiempo para contar cuántas horas hay entre un  día y otro, y después otro y  otro más. ¿Hay Dios?
La puerta. Cualquier cosa por venir. Las agujas esperando.
Dios estaba entre tu mano y mi reloj, la vida llegó girando y el sol nació por primera vez en mi ventana, vertió  su amarillo sobre el vino. Naranja vida que cojo con mis dedos y dibujo un círculo perfecto en la cama donde nos acostamos,  el divino se encuentra siempre en el camino de los que saben adónde ir.

Que horas são?

Fui à igreja e voltei sem Deus, o divino desencontra-se sempre de quem anda sem ter para onde voltar. Será que cheguei tarde? Será que cheguei cedo? Olho o pulso sem marcas e sem respostas, pergunto-me: - Há quanto tempo estou aqui? A vida move-se circular, e eu com ela, veloz, à volta de qualquer coisa que começa e termina sempre no mesmo sítio. Que horas são?
Os ponteiros contrariam a agitação dos dias, esperam pacientemente qualquer coisa que está para chegar, o relógio deteve-se na porta de outra vida. Não há tempo para contar quantas horas vão de um dia ao outro, e depois a outro e a outro. Será que Deus existe?
A porta. Qualquer coisa por chegar. Os ponteiros à espera.
Deus estava entre a tua mão e o meu relógio, a vida voltou a girar, e o sol que nasceu pela primeira vez na minha janela, derramou o amarelo por cima do vinho entornado. Laranja vida. Apanho-o com os dedos e desenho um círculo perfeito na cama onde nos vamos deitar, o divino encontra-se sempre nos passos destemidos de quem sabe para onde voltar.

Diana V.
2013



martes, 18 de diciembre de 2012

Sem remitente, nem destinatário

Sei enquanto leio que a memória há muito me pesa. São já poucas as concentrações claras que consigo fazer!
Troco com facilidade irónica as sílabas da primeira frase pelo contraponto final do livro. Sempre fui assim, um inquiridor de algo a que a minha condição nunca me possibilitou chegar. Sentimento esse que me levou a um suave desespero encerrado no intrínseco do dentro, como alguém que prezo muito um dia escreveu. 
Porém essa procura nunca me levou a alcances mais que breves ondas de contemplação, agonia na minha expressão. Cousa essa, e reitero a veemência de cousa como momento antigo, que não me deixa incensar por completo a melancolia. 
Poderá parecer-te estranho este discurso que já não possuo há muito, visto que me cansei de cansar os outros nas minhas intrigas mentais. Sinto-me umas horas vagas nos passos que os outros dão. Isso sim me magoa! A penalização comunitária que existe num só. Esse enjoo que pensando constantemente me condena.
Se fosse apenas solitária essa impressão, pouco me importaria a dor! A grande questão é que ela ultrapassa aquilo que de terreno a mim me é permitido. Mas todavia em algo me sinto feliz. Concretizei a mais mundana das necessidades, o amor. A requintada pausa em que o homem se esquece que é. Aquele momento em plenitude de se ser permanecendo. Amei sim. E amo ainda. Como um filme que vi ontem, amo a capacidade de viver sem o amor, mas não de viver sem amar.
Com certeza sabes de quem te falo. Se não o sabias agora percebe-lo claramente. Eu próprio compreendia a minha essência nesse momento. A clareza e efusão não são de certeza o seu cariz e as mãos que a construíram à muito caíram de Olimpo oligarca massacrador de toda a noção pública.
Afasto-me ao longo do canal, becos, vultos, sendo que mais tarde ou mais cedo haverá um resultado final…

Com o meu eternamente,
Volto dois segundos depois. Volto. Volto. Volto. 
Com fúria.
Há agentes massacradores em tudo isto, homenagens à guerra, à sanguínea.
E mais. Tenho 700 páginas de purgas em minha frente e uma única só.
As janelas, os degraus, as luzes que delas saem. Um caminho há já mais que o tempo de ontem esquecendo.
Se ao menos tivesse a possibilidade de também eu me converter em luz, seria mais fácil sacudir a poeira de uma única só.

Traz! Traz!
Uma simples página caiu no momento efémero, é certo. Contudo continuamente exercido.
Tenho quatro quadros em minha frente, diferentes séculos, um em cada um. Mais precisamente do XII ao XV. Têm todos eles uma ligação lógica, consequente. Dinâmica que me foi roubada. Perda que no desenrolar da escrita perdi.
Não faço sentido enquanto uso o tacto. Não uso a visão como sentido. Essas são as realidades que de dentro possuo. 
É concentrada a metafísica que posto ao lado a contemporaneidade me cedeu. O completo absurdo no nosso hoje.

O meu,

Confesso que te começo a incomodar. Eu sei que peso.
São flores de infância que
Não tivemos em comum, 
São pétalas, oh…
São essências que nunca 
Tivemos juntos, dispersões

Corremos sim, quando tínhamos dois anos. 
Tu lá em cima eu cá em baixo
e tu sempre soubeste que alguém corria ainda mais.

Esse que eu desconhecia
Malandrinha…
Julgaste-me, ora agora já está!

Amo sim!

Não contes, fala baixinho ….!
Sabe-lo há mais que eu.
Sempre soube que o porto me tinha roubado algo mesmo antes de eu o conhecer. 
Cautela, que mais alguém corre e tu sabe-lo.
Silêncio. deixa-me esconder.

Continuem, continuem vocês a correr.

O meu obrigado.

J. P.

Já passado ao esquecimento o dia, perco de mil em mil vezes a luz interior do meu país. São trépidas as candeias de meus avós, batendo de porta em porta. Quando de repente… Tudo se apaga. 
Assobia, assobia o menino escondido no alvorecer de meu ser!

… … …
Escondo-me na capa funesta de não saber ser.
Engano. Saber ser é não mais que a destruição sem senso da grande vez de ter sonho.
Que isto de sonhar, contra baloiçar, enfim viver é mais que ser ou não ser, é permanecer.


João Prancha

lunes, 17 de diciembre de 2012

Nos gusta escribir. Nos gusta leer. Nos gusta compartir. Nos gusta criticar. Nos gusta sugerir. Nos gusta asomar la nariz. Nos gustan las lenguas y quienes las usan para hablar, para escribir, para amar, para respirar. Nos gusta respirar palabras. Nos gustan las letras. Nos gusta el café. Nos gustan los sofás con libros. Nos gusta el cine. Y la fotografía. Nos gusta la tele, a veces encendida. Nos gusta adornarla con tapetes de la abuela.  Necesitamos comer. Necesitamos dormir. Necesitamos agua y estudios. Todo lo demás, además, nos gusta. Son las cosas que componen nuestro apéndice, nuestro complemento. Y queremos que estéis en él.