Sem remitente, nem destinatário
Sei enquanto leio que a memória há muito me pesa. São já poucas as concentrações claras que consigo fazer!
Troco com facilidade irónica as sílabas da primeira frase pelo contraponto final do livro. Sempre fui assim, um inquiridor de algo a que a minha condição nunca me possibilitou chegar. Sentimento esse que me levou a um suave desespero encerrado no intrínseco do dentro, como alguém que prezo muito um dia escreveu.
Porém essa procura nunca me levou a alcances mais que breves ondas de contemplação, agonia na minha expressão. Cousa essa, e reitero a veemência de cousa como momento antigo, que não me deixa incensar por completo a melancolia.
Poderá parecer-te estranho este discurso que já não possuo há muito, visto que me cansei de cansar os outros nas minhas intrigas mentais. Sinto-me umas horas vagas nos passos que os outros dão. Isso sim me magoa! A penalização comunitária que existe num só. Esse enjoo que pensando constantemente me condena.
Se fosse apenas solitária essa impressão, pouco me importaria a dor! A grande questão é que ela ultrapassa aquilo que de terreno a mim me é permitido. Mas todavia em algo me sinto feliz. Concretizei a mais mundana das necessidades, o amor. A requintada pausa em que o homem se esquece que é. Aquele momento em plenitude de se ser permanecendo. Amei sim. E amo ainda. Como um filme que vi ontem, amo a capacidade de viver sem o amor, mas não de viver sem amar.
Com certeza sabes de quem te falo. Se não o sabias agora percebe-lo claramente. Eu próprio compreendia a minha essência nesse momento. A clareza e efusão não são de certeza o seu cariz e as mãos que a construíram à muito caíram de Olimpo oligarca massacrador de toda a noção pública.
Afasto-me ao longo do canal, becos, vultos, sendo que mais tarde ou mais cedo haverá um resultado final…
Com o meu eternamente,
Volto dois segundos depois. Volto. Volto. Volto.
Com fúria.
Há agentes massacradores em tudo isto, homenagens à guerra, à sanguínea.
E mais. Tenho 700 páginas de purgas em minha frente e uma única só.
As janelas, os degraus, as luzes que delas saem. Um caminho há já mais que o tempo de ontem esquecendo.
Se ao menos tivesse a possibilidade de também eu me converter em luz, seria mais fácil sacudir a poeira de uma única só.
Traz! Traz!
Uma simples página caiu no momento efémero, é certo. Contudo continuamente exercido.
Tenho quatro quadros em minha frente, diferentes séculos, um em cada um. Mais precisamente do XII ao XV. Têm todos eles uma ligação lógica, consequente. Dinâmica que me foi roubada. Perda que no desenrolar da escrita perdi.
Não faço sentido enquanto uso o tacto. Não uso a visão como sentido. Essas são as realidades que de dentro possuo.
É concentrada a metafísica que posto ao lado a contemporaneidade me cedeu. O completo absurdo no nosso hoje.
O meu,
Confesso que te começo a incomodar. Eu sei que peso.
São flores de infância que
Não tivemos em comum,
São pétalas, oh…
São essências que nunca
Tivemos juntos, dispersões
Corremos sim, quando tínhamos dois anos.
Tu lá em cima eu cá em baixo
e tu sempre soubeste que alguém corria ainda mais.
Esse que eu desconhecia
Malandrinha…
Julgaste-me, ora agora já está!
Amo sim!
Não contes, fala baixinho ….!
Sabe-lo há mais que eu.
Sempre soube que o porto me tinha roubado algo mesmo antes de eu o conhecer.
Cautela, que mais alguém corre e tu sabe-lo.
Silêncio. deixa-me esconder.
…
Continuem, continuem vocês a correr.
O meu obrigado.
J. P.